sexta-feira, 18 de abril de 2014

O HOMEM DUPLICADO (ENEMY)

O Homem Duplicado é um thriller psicológico baseado no livro do escritor português ganhador do Nobel de Literatura, José Saramago, O Homem Duplicado. O livro de Saramago conta a história de Daniel e Antonio, dois homem com uma semelhança perturbadora que acaba por deixar os dois personagens numa situação complicada e única, a da perda da identidade humana. Daniel e Antonio se deprimem e se atormentam diante de um fato tão inédito e que mexe tão profundamente suas identidades como seres humanos, a perda da singularidade. Na obra, Saramago coloca em cheque, mais uma vez, como faz em Todos os Nomes, o papel do homem ante a teia que forma o universo no qual ele está envolto.

Já o filme O Homem Duplicado (Enemy), uma co-produção entre Canadá e Espanha, dirigida pelo canadense Denis Villeneuve (diretor em O suspeito, Incêndios, Redemoinhos entre outros) conta com as participações dos talentosos Jake Gyllenhal (O Segredo de Brocken Back Mountain, Os Suspeitos, Amor e Outras Drogas, Entre Irmãos...), Mélanie Laurent (Trem Noturno para Lisboa, Truque de Mestre, Bastardos Inglórios...), Sarah Gordon (A Casa dos Sonhos, Cosmópolis, Mundo sem Fim...) e uma participação especial de Isabella Rossellini (A Morte de Caim e Abel, Coração Selvagem A Solidão dos Números Primos, Amantes...).

O filme conta a história de Adam e Anthony (Jake Gyllenhal): este é um ator falido, aquele um professor universitário de História que encontra, acidentalmente, assistindo a um filme, um outro homem com características físicas idênticas com as dele (Anthony). Num envolvimento profundo entre os dois que, depois de uma busca intensa, se encontram, o filme tece um drama pessoal, inédito e inexplicável na cabeça dos dois personagens: como pode haver uma outra pessoas com as mesmas características físicas de uma outra pessoa, um caso nunca visto nem entre irmãos gêmeos univitelinos? Os traços psicológicos são os mesmos? O pensamento, a posição diante da vida são os mesmos? Eu sou anormal por isso, por haver uma pessoa idêntica a mim a solta no mundo? Essas e outras questões perturbam e entremeiam a vida dos dois personagens, num silêncio agonizante. A história passa num atmosfera pesada, numa cidade canadense escura e quase sem vida; salvo as duas cenas feitas externamente e os flagras feitos do alto da cidade, o filme todo passa num quadrado com cenas quase monótonas e cinzas e em diálogos duplos. Em algumas vezes, o efeito das câmaras, os sacolejos, e a lucidez das filmagens se fazem sentir; na busca de um realismo forte, o diretor deixa-se perceber com um olhar afinado para as cenas. O telespectador sente-se como alguém que está dentro do espaço da cena (e da trama, que te pega no enredar da história) graças aos enquadramentos impressionantes; muito bom o efeito de câmara do filme!

Para alguns iniciantes, o filme é confuso, sem uma lógica e sem qualquer compromisso com a realidade, aparentando confusão e ilogicidade (principalmente com as aparições intermitentes e confusas de uma aranha em tamanho gigante que povoa a imaginação de Adam!), uma vez que o roteirista e o diretor não deixaram de soltar algumas pitadas de Realismo Mágico, tão forte na literatura de Saramago. Prevendo isso, o diretor epigrafa o filme com uma citação saramagiana "O caus tem uma ordem até então desconhecida", mostrando total logicidade e domínio de roteiro. 

Nos resta falar da beleza de filme, muito bom, muito profundo, interessante, eu recomendo que assistam.




A capa do filme que ficou mais famosa


Segue abaixo um link para ler o livro de Saramago em pdf.