sábado, 25 de maio de 2013

Um Lobão nem tão elétrico assim...

Lobão, durante anos, foi uma figura em volta com diversos acontecimentos que mudaram um pouco o foco de sua obra com artista propriamente dito. Desde seu envolvimento explicito com as droga (Tão explicito quanto qualquer outra coisa na vida do artista) até suas entrevistas, passando por um conjunto de atitudes consideradas reacionárias, como gritar o nome do ainda direitista Lula no programa da mais esquerdista das emissoras brasileiras, a Globo ou ainda tr a coragem de questionar o cânone artístico brasileiro, chamando-lhes de "uma punheta mal batida", Lobão sempre se envolveu em polêmicas, que foram um prato cheio para a imprensa sempre o tachar de polêmico. Numa análise mais aprofundada, é possível dizer que polêmica é o sinônimo da palavra Lobão, para nós, bundamoleiros de esquerda, como muito bem nos intitula Lobão. A polêmica está tão atrelada ao artista que motivou o parágrafo inicial desse meu poster, contudo, ela não é nem meio porcento das razões que levam milhares de homens e mulheres (como eu!) apreciarem sua arte e suas opiniões.

Bem, diferentemente da imprensa no geral, este post não tem o objetivo de depreciar o artista de língua ferina (para alguns) e verdadeira, mas sim mostrar um Lobão que em sua obra destoa com a imagem de vilão e drogado montada pelos meios de comunicação. Quem se deter, um instante que seja, nas canções de Lobão, será rapidamente fisgado e logo perceberá um artista bastante ligado às coisas do coração, ao amor à vida e ao sentimento como fonte inesgotável. No interior das canções de Lobão, vê-se um gajo apaixonado e que vive a vida em seu modo mais intenso, sentindo e buscando o tudo, o enlaço entre o buscar e o não achar. Prova disso são suas baladas românticas, que embalam casais Brasil a fora. Qual apaixonado não se encontra nos versos obscuramente explícitos de Essa noite não, Rádio Blá Blá...Me chama? Só para citar as mais conhecidas? Que pessoa que ama não se veria embalados pelos versos de seda?  Numa primeira análise, tais canções são um conjunto que representa um eu-lírico bastante diferente do que fala em vida bandida, canos tortos, vida louca vida entre outras, mas que, dado o fulgor e a expressividade dos versos, elas encontram-se em um universo particular, que é um ser de sentimentos fervorosos, sentimentos tão fortes, que se conjugam com sua voz estridente e grave, que é Lobão.

Uma coisa bastante forte em Lobão é sua quase que sega fidelidade ao rock. Lobão funciona como um dos únicos sobreviventes do rock progressista brasileiro, um átomo do que foi um dos primeiros suspiros do rock no Brasil. Tocou com Ritch, Lulu Santos e sua banda inicial, a Blitz, sempre buscando fundamentar esse estilo de música abandonado, segundo o próprio Lobão. Em uma de suas recentes entrevistas, Lobão diagnóstica os antes roqueiros brasileiros, dizendo que o futuro do roqueiro brasileiro é  ser cantor romântico (rs, fato!). Nesse ponto, Lobão é mais enfático e tem autoritário para falar, uma vez que o estilo roqueiro é algo do que ele não abra mão, uma vez que se levarmos em consideração uma das faces mais puras do rock, que é o punk rock´n roll, vemos que muitas de suas características, Lobão ainda preserva em  suas mais recentes canções, como o rife de guitarra pesado e os gritos inflamados que caracterizam qualquer jeito incomum de se fazer o rock como produto de gravadoras. Uma bela e apaixonante prova disso são os versos e rifes de o rock errou.
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Com essas ideias, ouçamos, então, uma das canções mais vibrante desse artista apaixonado que é Rádio Blá, de 1987, de seu famosos álbum Vida Bandida:




Na canção, vemos um jovem embora apaixonado, grotesco, alucinado por uma garota tão paranoica quando ele. Ele é um jovem que busca no amor a fuga do cotidiano massante, como se observa nos versos seguintes

Ninguém pensaria que ela quer namorar/Reconheço que ela me
deixa inseguro/Sou louco por ela, e não sei o que falar/O que eu quero é que ela
quebre a minha rotina/Que fique comigo e deseje me amar

Observamos, em tais versos, a eterna dialética da vida se figura, uma vez que neles, a tal garota tem que escolher entre curtir a vida ou vivê-la responsavelmente ao lado de seu amado. Diante do pedido e do estado da amada, revela-se no jovem um desejo que, ainda que oculto, é forte, é presente, o desejo de ter alguém para amar. Como o amor é algo do qual não se foge assim tão facilmente, o jovem grita como se quisesse ao mesmo tempo estar preso e estar solto:

Não dá para controlar, não dá
Não dá pra planejar
Eu ligo o rádio
E blá, blá, blá, blá, blá, blá
Eu te amo 
Lógico que, quando escreveu a música, Lobão poderia até não estar pensando nessas questões, mas negá-las que elas estão latentes, seria um erro.

Desse modo, como se vê nessa breve reflexão sobre uma parte pífia desse universo estrondoso e, às vezes, amedrontador que é Lobão, diferentemente do que se pinta, o roqueiro é portador de um eu-lírico amoroso, tão apaixonado quanto qualquer Roberto Carlos em sua trajetória inicial. O interessante, em Lobão, é o modo que ele conta seus casos de amor: sempre jovem, sempre entregue, o amor é o lugar é o centro dos acontecimentos e por ele é que a vida existe,por ele é que vale viver loucamente. O amor ´um princípio e o fim, é o que o faz, por vezes, parecer tão forte, tão agressivo, tão complexo, tão diferente. Faço um convite um pouco insólito: Busque ouvir pelo menos as músicas listadas aqui, que são as mais conhecidas (o que não que dizer que sejam as únicas geniais). despida-se dos estereótipos e navegue nesse mar que, às  vezes, de longe, parece revolto e confuso, mas que, de perto, é fantástico e inebriante.



Nos despidímos com um de seus versos mais conhecidos e mais românticos. Um fragmento de Me Chama


Tá tudo cinza sem você
Tá tão vazio
E a noite fica
Sem porque...

Aonde está você?
Me telefona
Me Chama! Me Chama!
Me Chama...