quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O LÉXICO: O QUE É, COMO SE FAZ

O léxico é tradicionalmente definido como o conjunto de todas as palavras de uma língua. Para nós, o léxico consiste em um arsenal de signos utilizados e transformado durante a comunicação humana. Geralmente, o significado de uma palavra (signo lingüístico) não é utilizado em seu máximo, tendo sempre o discurso utilizado uma parte do sentido de um lexema, por isso que o lexema, no nível do discurso, é sempre transformado. O léxico de uma língua natural possui uma dimensão incalculável, visto que o léxico é o sistema mais aberto da língua, recebendo e perdendo (substituindo) elementos. Desse modo, muitos autores entendem o léxico como um organismo, que está continuamente em transformação. Por isso que, segundo estudiosos da lingüística-comparatista, os elementos dos sistemas lexicais das línguas naturais (lexemas) podem ser considerados como algo que nasce, cresce, se reproduz e morre, ou seja, um ser vivo. Esses estágios dos elementos lexicais possuem ligação com alguns estágios do seres vivos: o nascimento é o momento da produção, da criação a partir de processos sistemáticos como os processos de composição, derivação, empréstimos e siglagens; o crescimento corresponde à aceitabilidade do elemento dentro do sistema lingüístico, ou seja, dentro do sistema lexicográfico da língua(dicionários e uso popular), em outras palavras, quando o elemento tem aceitabilidade (reconhecimento e utilização) da população no geral e dos especialistas em léxico; a reprodução diz respeito à possibilidade de derivação de um elemento. Os lexicógrafos são quase unânimes em admitir que um lexema só fará parte de um sistema lexical quando ele possuir a capacidade de formar novos elementos dentro do sistema,como por exemplo, nos casos mais claros de neologismos por empréstimos lingüísticos do inglês (atualmente, o sistema lingüístico que mais tem contribuído para o sistema do português) scanner já está adaptado morfologicamente ao sistema do português, visto que forma outros elementos no idioma, como adjetivos scanneado, verbos scannear e claro, substantivos scanner. O último estágio de uma palavra em uma língua é o estágio da substituição ou morte completa, ou como a Lexicologia chama Arcaização. Continuamente, elementos são apagados do quadro lexical das línguas. Lexemas que outra que outrora possuíam uma alta freqüência nos textos utilizados pela sociedade, são substituídos ou tornam-se obsoletos, como os casos de chávena, amplamente utilizados no texto de Machado de Assis, no início do século XX, hoje é considerado um arcaísmo e é desconhecido pelos falantes brasileiros. Outros exemplos de arcaísmos do português é entonce, alférezes, meles entre outras. Nos estudos sobre o léxico, uma das questões mais caras é com relação à unidade do léxico. Muitos são os trabalhos que se debruçam sobre essa problemática sem chegar a avanços consistentes. Qualquer falante nato de uma língua sabe exatamente que existem unidades lingüísticas utilizáveis em qualquer discurso, mas poucos ou nenhum têm a habilidade de dizer, exatamente, o que é uma palavra. Qualquer resposta que se dê com relação a essa problemática, vai sempre suscitar uma outra pergunta, como podemos ver nos trabalhos que se prestam a essa análise. A título de exemplo, levemos em consideração apenas uma das respostas a esse “nó” da Linguística (da Lexicologia, mas não só dela). Se dissermos que uma palavra é um conjunto de elementos formadores de uma língua (morfemas, afixos) que se unem para dar sentido a um elemento, forma ou fenômeno extralinguístico, estaremos cobrindo apenas uma parte do léxico, uma vez que o elemento lingüístico que conhecemos como palavra não tem função simplesmente semântica (substantiva, adjetiva ou verbal), mas temos “palavras” que tem função gramatical, que aponta para o interior do léxico, as chamadas palavras funcionais, como o artigo, a preposição a conjunção e suas locuções. Geralmente, nos esquecemos dessas “palavras” por elas não possuírem conteúdo semântico, mas “conteúdo gramatical”. Um exemplo é perguntar para qualquer pessoa dar exemplo de uma palavra. Raras serão as pessoas que dirão que um artigo, uma preposição, um pronome constituem uma palavra. Geralmente, as primeiras palavras serão substantivos, algumas serão adjetivos e por fim verbos, é fato! Contudo, mesmo diante dessa problemática, existem algumas abordagens que nos direcionam para uma quase resposta a esse enigma esfigíaco. A abordagem dada por Biderman (1978) a essa problemática é um bom início. A autora, partindo do pressuposto defendido por Sapir, de que cada sistema lingüístico está fundamentado em um conjunto de regras extralingüísticas (sociais, culturais, folclóricas) próprias de cada comunidade (ou o relativismo lingüístico). Desse modo, com exemplo de línguas que não derivaram do latim (como o turco e o japonês) a autora demonstra que o conceito de palavra defendido pelo estruturalismo é falho, visto que nesses sistemas, as relações entre os elementos e os conceitos operam diferentemente do português, do francês ou de qualquer outra língua ocidental derivado do latim ou do anglo-saxão. Por isso, Biderman diz que o conceito de palavra deve ser relativizado em cada língua. Portanto, o português deve ter seu conceito,o francês o seu e o japonês o seu. Lembro que esses e outros conceitos estão difundidos nos estudos de Lexicologia amplamente publicados país a fora. Exemplos desses estudos são a coleção de livros lançados pelo GT de Lexicologia da ANPOLL, conhecida por As ciências do léxico, que reuni trabalhos, ao longo de seus 6 volumes, de estudiosos consagrados no Brasil e no mundo. Na internet, proliferam trabalhos publicados em periódicos com números dedicados a essa área da língua ou em números avulsos, além de anais de eventos que se dedicam exclusivamente aos assuntos sobre o léxico. BIDERMAN, M. T. C. Teoria Linguística. Rio de Janeiro: LTC, 1978.