sexta-feira, 20 de maio de 2011

Finalmente a Linguística graduou

Nós, linguístas (por crença ou por formação escolar), estamos eufóricos. A Línguística finalmente graduou-se. Agora ela amadureceu. Pena que terá que enfrentar um mercado grande e desigual do lado de fora de seu lar habitual, a universidade. Lá fora, o patinho feio terá que enfrentar grandes inimigos, ferozes, fortes, com muitos apoios. Será descriminada, chutada, xingada. Terá que ser mais forte do que nunca. A Linguística vai ter que acreditar, como nunca, em seus ideais e postulados.

Quanto ao feito, devo parabenizar a autora do livro Por uma vida melhor - Heloísa Ramos, que teve a coragem de levar adiante as ideias que discutimos tanto em congressos, seminários, em salas de aulas e espaços públicos, e que tanto são estudadas nas universidades de todo o país, nos cursos de Letras. Finalmente alguém sai do âmbito das portas das universidades para proclamar as boas e científicas ideias que a Linguística vem desenvolvendo ao longo dos séculos. Desde Platão (Lembrem Crátilo) até os dias atuais, a Linguística estuda a língua (as linguas) e seu comportamento. A Linguística, como todos sabem, representa o rompimento com o que foi posto desde os tempos iniciais de nossa existências (lembrem dos retóricos). Um rompimento epistemológico que faltava em nossa sociedade.

Um coisa que sempre me deixou "escabreado" é o fato de que em todos os âmbitos da existência humana, há evolução nos estudos. E ainda mais, essas evoluções não se restringiam aos estudiosos (como acontece com a Linguística). Pelo contrário, elas são comemoradas, amplamente divulgadas. Quantas vezes ideias antigas que os estudiosos nutriam há muitos séculos, são revistas, e quando revistas, são reconcebidas. Essas ideias, quando revistas, a sociedade toma conhecimento exaltando a tal revisão de algo já posto. Um bom exemplo, e trivial, é o reconhecimento do café, ou do chocolate como bons alimentos. Uma hora eles engordam ou emagrecem, outras horas eles são bons para a saude. Nunca sabemos ao certo.


Há evoluções na Biologia, no estudo da História, na apreciação de uma obra de arte (no sentido de haver novas manifestações artísticas, e que por isso, os observadores devam estar aptos a enderem novas linguagens.), mas quando nos deparamos com a inovação dos estudos sobre a língua e suas conclusões (dos estudos), então temos um monte alto e uma parede intransponível para escalarmos.

Do contrário que certos """especialistas""" ( merece um pouco mais de aspas) defendem, o estudo e o ensino de língua devem avançar. A gramática, há muito, não dá conta de explicar os fenômenos linguísticos. Outra coisa é o fato de que o ensino dessa mesma gramática, que repete-se há muitos anos, não tem dado bons resultados, sobretudo, para o Brasil.

Insisto no que já escrevi, em um artigo já publicado (Cf SERRA, 2010): a escola é local em que o aluno deve saber que a língua é mutável, dinâmica, não una. Não há dicionário ou gramática que suporte a grandeza de uma língua. O aluno precisa saber que a língua se modifica (conforme exaustivos estudos feitos) de acordo com a camada social, com o lugar em que o falante se pronuncia, com a importância do receptor, bem como, com o espaço histórico e social de onde o falante desempenha seu papel como indivíduo. É nesse depósito heteroclitico que a língua se molda e evolui, se faz tão moderna e hábil para nós falantes.

A nós, Linguístas (de crença ou de formação), nos resta acreditarmos muito em nosso trabalho. Vejo, em um horizonte não muito distante, um grande desafio que se faz premente há longos e dolorosos anos. É nosso dever ensinar, levar a frente essas ideias que modificaram a vida de muitos que deixarão de ser descriminados por seu modo de falar. A variedade da língua terá que ser compreendida por um número infinito de pessoas, trabalho nosso, da nova geração de linguistas que estão se formando nas universidades e faculdades país a fora. Antes mesmo de Saussure, até os dias atuais, temos materiais (corpora) e ideias suficientes para defendermos nossas crenças.

Torçamos para que o patinho feio, com os nossos esforços, torne-se logo um lindo e corpóreo cisne, como o de Christian Andersen. E que esse cisne chame logo a atenção e demonstre a sociedade a bela e fascinante realidade que lhe está ante os olhos, a realidade da natureza das línguas.

SERRA, Luís Henrique. O léxico das brincadeiras infantis no Maranhão: caminhos para o ensino de língua em sala de aula. In. RAMOS, Conceição de Maria de Araujo; ROCHA, Maria de Fátima Sopas; BEZERRA, José de Ribamar Mendes. O português falado no Maranhão: múltiplos olhares. São Luís: EDUFMA, 2010. P 173 - 182.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Djavan - Samurai

Samurai - Djavan

Djavan é um dos mais talentosos letristas de nossa música. Com uma voz sem igual, o artista encanta e fala de amor como poucos. O amor cantado pelo alagoano é o amor sem medidas, o amor que não tem fim, o amor voluptoso, muito semelhante com a paixão, porém, mais ardente e mais fiel que essa. O amor, cantado por Djavan, deve ser aquele amor intenso sentido por um homem e uma mulher. Aquele amor que vive no mais amplo local das abstrações, aquele amor em que só se completa com o a aproximação da pessoa amada. Só a contemplação não lhe basta, o que lhe basta é o sentir ardente, escorrendo pelo corpo. O que é interessante sobre esse assunto, no cantar de Djavan, é a semelhança desse amor com a paixão. É um amor disposto a tudo, como a paixão ardente. Nesse amor, tudo arde: a boca que entremecida, toca a outra boca da pessoa amada, os braços que não se contentam em sí, o coração que palpita sem parar quando encontra o peito da pessoa amada. Contudo, na música de Djavan, o amor se desasemelha da paixão graças a seu caráter eterno, respeitoso, controlador. No coito do amor, em Djavan, há um desejo mutuo de saciassão. Os dois devem estar de acordo em saciar um ao outro, e não, como na paixão, o prazer de uma mão só. Um bom exemplo desse amor cantado por Djavan é a letra da música "Samurai". Na música, o amor é um poderoso guerreiro que vence a todos que queiram lutar contra ele. Na canção, o homem que tenta lutar com todas as suas forças contra o amor, acaba vencido por ele. Mas, do contrário da paixão, todos aqueles que são vencidos por ele não ficam tristes, ao contrários, ficam felizes, sempre querendo mais dessa felicidade.

Aaaaaiii...

Quanto querer

Cabe em meu coração..

Aaaaaiii...

Me faz sofrer

Faz que me mata

E se não mata fere...

Vaaaaiii...

Sem me dizer

Na casa da paixão...

Saaaaii...

Quando bem quer

Traz uma praga

E me afaga a pele..

Crescei, luar

Prá iluminar as trevas

Fundas da paixão...

Eu quis lutar

Contra o poder do amor

Cai nos pés do vencedor

Para ser o serviçal

De um samurai

Mas eu tô tão feliz!

Dizem que o amor

Atrai...