terça-feira, 21 de setembro de 2010

Osvaldo Montenegro - METADE (inspirado em Traduzir-se - Ferreira Gullar )

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio…

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste…

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade…
também

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Papai Lula e seu filho Brasil

Sei que, certa vez, escrevi aqui que Lula foi (e sempre será) o melhor presidente que o Brasil já sonhou em ter. Digo isso não por suas decisões políticas ou por suas (nada convencionais) alianças internacionais, mas porque nele você podia ver uma vontade de mudar o Brasil. Era claro, no rosto do presidente do País, a vontade de mudar a vida dos brasileiros, independente de suas posições sociais, apesar da reclamação da classe média. Mas, talvez, o que Lula não esperava (ou talvez sim) é a face podre e obscura da política brasileira (ou mundial). Acredito que até de certo modo, o nosso humilde presidente lutou, mas sem sucessos, deixou-se abater quase no fim da caminhada. Entendo que só a vontade em Lula não fora suficiente, tinha que ter mais, mais visão, mais compreensão, mais que feijão com arroz, tinha que ter mais investimento em educação e saúde. Sem dúvidas Lula governou o país como um pai nordestino, que em sua maioria (dada as circunstâncias) pensa que “só encher o bucho dos meninos tá bom”. Mas não podemos negar a vontade do presidente de mudar o Brasil, ver ele mais “taludinho”, mais forte, mais importante. Não fora as forças “sobre naturais” (Lembrem Jânio) talvez ele conseguisse. Espero que enquanto eu estiver vivo surja outro homem com a vontade de Lula, só que com uma visão mais ampla de desenvolvimento de um país.