segunda-feira, 22 de março de 2010

PRESO [LIVRE]

Eu, aqui em meu quarto,
Preso no mais livre cosmos universal,
E enquanto a cidade grita, pânica, por meu nome:
Meus pensamentos não saeem de você.
Se eu quisesse ser livre, não o seria,
Porque você, meu ódio, meu amor,
É como grude solto nas garras da liberdade;
É como um suor de letras que vertem de meu coração
E que caeem, secas em meu papel.
Molhadas pelos sentimentos mais absurdamente vazios.

Enquanto a cidade grita meu nome, eu sussurro o seu.
Enquanto você movimenta-se em meu imaginário,
Eu paro, movimentando-me a seu encontro.
Na porta de meu quarto, a consciência me chama
Para a dura realidade mole e (des)sentida
Fresca e calorenta dos opostos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

São Luís no prisma Gullariano


"O homem está na cidade como uma coisa está em outra e a cidade está no homem que está em outra cidade.
mas variados são os modos como uma coisa está em outra coisa:o homem, por exemplo, não está na cidade nem como uma árvore está em qualquer uma de suas folhas"
(Ferreira Gullar - Poema Sujo)



Recentemente o autor maranhense Ferreira Gullar foi um dos principais homenageados da II Feira do Livro de São Luís. Dados esse fato, meses antes do inicio do evento, na internet havia inúmeras enquetes que questionavam sobre a escolha do maranhense para a homenagem. Porém, um outro que chamou a atenção foi a percepção do desconhecimento geral da obra de Gullar por parte dos maranhenses, pois, mensagens do tipo :" Para que escolher Gullar, ele não é maranhense" ou " Na obra de Ferreira Gullar não há uma menção à cidade de São Luís" proliferavam nessas enquetes. Frases como essas deixam qualquer um, amante da obra de Gullar, de cabelos em pé. Um outro espanto foi perceber que alguns se intitulavam estudantes dos cursos de Letras, mas que na prática, pouco sabiam, ou quase nada, sobre Ferreira Gullar e sua relação com São Luís.
Dados esses fatos, esse texto vem trazer alguns aspectos importantes sobre Ferreira Gullar, bem como de sua obra. Na verdade, José de Ribamar Ferreira , Verdadeiro nome do poeta, é Ludovicense, toda a sua formação inicial artistica é influenciada do Maranhão, visto que esta é um terra de grandes talentos poéticos.
Ferreira Gullar estudou no colégio Liceu Maranhense e no antigo CEFET, agora IFMA; viveu no Maranhão até alançar a idade adulta. Foi para o Rio de Janeiro devido a seu grande talento como autor teatral e de suas concepções políticas.

Desde moço Ferreira Gullar já anunciava que seria um gradiosissimo poeta. Participou de muitos concursos de poesia, onde quase sempre ganhava. Uma curiosidade é que seu primeiro Livro " Um poco acima do chão" em que já demonstrava muito talento, apesar de o próprio poeta achar que não, é fruto de um concuro em que ele ganhou em primeiro lugar, o prêmio seria a publicação de um livro, dai surgiu seu primeiro trabalho, dois anos antes de ele ir para o Rio de Janeiro.

Gullar sempre apresentou a cidade de São Luís com muito esmero. Há inúmeros estudiosos, muitos deles consagrados como o Humberto Eco, que atestam que a cidade de São Luís jamais saiu dos temas abordados na poesia Gullariana. Para esses autores, a cidade de São Luís, é um espaço buscado angustiadamente no eu lírico gullariano, a angústia da separação, das distâncias sempre aparecem nos temas abordados pelo poeta, São Luís aparece no cosmos gullariano como a musa intocável da segunda fase do romantismo, a Deusa Afrodite, bela e implausível com seu contornos de esmeralda, a Istalingrado Brasileira, como ele mesmo escreve São Luís em seu mais conhecido poema. Tendo em vista as concepções esquerdistas do poeta, São Luís ser comparada a Istalingrado é um grande elogio, visto que Istalingrado é a Meca dos esquerdistas.

Em um trecho de Poema Sujo , Gullar confunde-se com a própria cidade, diz que nele habita a plenitude do espaço "saoluisense":

"Mas sobretudo meu corpo nordestino mais que isso maranhense mais que isso sanluisense mais que isso ferreirense newtoniense alzirense" (grifo meu)


Nesse trecho fica bem claro esse eterno amor por São Luís. Ao logo de todo o poema, a lembrança da cidade amada é amarrada a seu tempo de criança, boas e saborosas cenas sempre acontecem em São Luís do Maranhão, independênte se ele estivesse na Argentina, França ou Chile, países onde ele ficou exilado durante a ditadura. Outra imagem atrelada a São Luís é a da figura do pai , de quem o poeta sempre faz menção.


Mesmo com as poucas provas aqui demonstradas,( para mais, consultar a obra do poeta) é de se crer que são suficientes para mostrar o quanto a cidade de São Luís mora no coração e na poesia de Ferreira Gullar. O mito de que São Luís não existe para Ferreira Gullar com certeza cai como uma bomba para o poeta, pior até que a bomba suja que como visto aqui, ama a cidade mesmo longe.

GULLAR, Ferreira. Poema sujo. Rio de Janeiro: circulo do livro, 2000.

MACEDO, Diogo Andrade de. Traços estilísticos de Ferreira Gullar em Poema Sujo, 1976. Disponível em << http://www.mafua.ufsc.br/diogo.html>> acesso dia 19/03/2010.