sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Concurso de poesias da UFMA: uma sucessão de erros

Recentemente, aconteceu uma coisa na cidade que me deixa meio pensativo: a universidade Federal do Maranhão abriu inscrições para o concurso de poesias da UFMA. Até ai, quase tudo bem. Antes, devemos refletir, o pelo menos jogar as cartas na mesa, sobre esse tipo de concurso.

O concurso de poesias da UFMA tem como princípio premiar a melhor poesia. Para mim, alguma coisa soa estranho. Primeiro, se poesia é arte, como julgar a arte, que é uma expressão do ser humano? Como dizer que uma pessoa tem mais sentimentos, ou reflexão para dizer que a outra? Se o poema é uma obra de arte, o que está em jogo é a sua estética, ou não? Nisso, entramos em mais um turbilhão de dúvidas: o conceito de belo não é excessivamente relativo, e muda de acordo com as concepções da sociedade? Julgar um poema é como se eu estivesse dizendo que um quadro, ou uma escultura é mais bonita que a outra, algo impensável do ponto de vista estético. Eu não posso dizer que um quadro do Rafael, Picasso ou mesmo Kandisky seja mais bonito que de artistas mais contemporâneos,como Ernesto Neto, Alfredo Volpi ou Tarsila do Amaral e seu Antropofagia; ou mesmo dizer que Balzac, Didero, Ernest Hemigway, Augusto dos Anjos sejam mais talentosos que Oswaldo de Sousa, Cecília Meireles, Lya Luft, Arnaldo Antunes ou Clarice Lispector, cada um tem sua beleza particular, expressão própria, é isso que os faz da obra de arte universal, carregada de regionalismo humano, de distintos pontos de vistas, em outras palavras, ser obra humana (de arte). Me perdoe a ignorância, mas na verdade, eu não entendo.

Mas o concurso da UFMA tem um absurdo a mais, além desse: antes do concurso acontecer, houve uma seleção das poesias que poderiam concorrer no concurso (continuo não entendendo) - um pré-concurso. Por incrível que parece, todos os finalistas selecionados já são poetas conhecidos da grande maioria do público, sendo assim, uma deslealdade contra os jovens poetas iniciantes. Será que a universidade não poderia errar menos escrevendo em seu concurso só poetas iniciantes? Para mim, uma sucessão de erros cometidos pela Universidade Federal do Maranhão.

Antes do fim, quero dizer que tudo isso que escrevi aqui não foi por dor de cotovelo de um candidato que não foi selecionado, nem me escrevi, afinal, não sou poeta e nem tenho a pretensão de ser (admiro quem tem). O que me motiva a tamanha revolta é o fato de inúmeros poetas talentoso, conhecidos meus ou não, ficarem de fora desse concurso. Gente talentoso, que nos emocionam com suas palavras sensíveis, grandes nomes da poesia contemporânea, mesmo não sendo conhecidos. O que me consola é o fato de que nem todos os grandes poetas de nosso país, e de outros, terem sido reconhecidos pelo grande público durante suas vidas, ou mesmo terem perdido em concursos como esse, como Augusto dos Anjos e Sousandrade, o que não diminuía em nada o talento sobrenatural que eles tinham. Estou certo de que, no futuro, a UFMA vai lamentar ter deixado de fora nomes grandiosos de nossa próxima geração literaria, visto ser aqui um celeiro de poetas talentosos e que sempre dão orgulho ao nosso Estado.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Português falado no Maranhão: múltiplos olhares




Quando se pensa seriamente sobra a língua portuguesa, deve-se levar em conta os inúmeros trabalhos publicados a cada ano pelos inúmeros órgãos universitários que têm feito estudos sistemáticos do português brasileiro. Tentar diferenciá-lo do português europeu, traçar suas marcas identirárias e perceber a relação entre a língua com as inúmeras culturas que vivem juntas no Brasil e o resultado dessa relação são só alguns dos objetivos desses estudos. Para Sociolinguística, qualquer investigação linguística que se faça deixando de fora as inúmeras relações sociais existentes nos grupos humanos acaba por cometer os mesmos enganos cometidos pelos estudos gramaticais ao longo dos séculos.

É também um dos objetivos da Sociolinguística, da Dialetologia e da Geolinguística brasileiras mapear os inúmeros falares no Brasil. Qualquer leigo sabe que um maranhense não fala como um gaúcho, carioca ou paulista. Essa consciência da variação tem apoio nos estudos geolinguísticos, sociolinguísticos e dialetológicos. Nesse sentido, não seria muito pensar em diferenças dialetais entre os estados brasileiros, em outras palavras, é possível falar em português falado em São Paulo, Rio de Janeiro e no Maranhão.

Quanto ao português falado no Maranhão, são muitos os mitos que o cerca: o primeiro e o mais famoso deles é o de que, no Maranhão, fala-se o melhor português do Brasil; outro mito é de que os falantes de português do Estado não se tem sotaque; esses e outros mitos fazem do português falado no Estado uma incógnita para os estudos dialetais e sociolinguísticos brasileiros, visto que não havia (ou havia poucos), até o ano de 2000, estudos que confirmassem essas ideias que já estão arraigadas no inconsciente da coletividade brasileira.

Com vistas a confirmar, ou mesmo, desfazer essas ideias, o Projeto Atlas Linguístico do Maranhão - Projeto ALiMA, do curso de Letras da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) - lança sua terceira edição da série de trabalhos sobre os estudos linguísticos maranhenses: " O português falado no Maranhão: múltiplos olhares". O livro é uma coletânea de artigos produzidos a partir dos dados do Projeto ALiMA feitos pelos professores pesquisadores e auxiliares de pesquisa do Projeto. Foram contemplados, nessa obra, inúmeros aspectos linguísticos do português falado no Maranhão, como os aspectos fonéticos, fonológicos, semânticos-lexicais, e aspectos sintáticos da língua. Esses aspectos são alvo das análises e das interpretações dos pesquisadores e estudiosos da fala maranhense do ALiMA.
Os textos foram organizados por três professores do departamento de Letras da UFMA, professores pesquisadores da área da Sociolinguística, da Geolinguística e da Dialetologia, professora doutora Conceição de Maria de Araujo Ramos, professora doutora Maria de Fátima Sopas Rocha e o professor doutor José de Ribamar Mendes Bezerra, todos pesquisadores do Projeto ALiMA. Além dos professores pesquisadores, são autores de artigos os auxiliares de pesquisa do Projeto, que são as mestres Cibélles Béliche, Zuleica Barros, Heloísa Curvelo, e Georgiana Santos, e os alunos graduandos do curso de Letras da UFMA, Artur Pereira Santana, Denise Aymoré, Edson Lemos, Gizelly Fernandes, Juliane Cutrim, Luís Henrique e Wendel dos Santos e as professoras Karla Pereira, Lígia Siqueira, Rafaela Abreu e Sandra Nívea.
Além do livro o português falado no Maranhão: múltiplos olhares (2010), são também livros importantes para o entendimento do português falado no Maranhão " O português falado no Maranhão: estudos preliminares" (2005) e " A diversidade do português falado no Maranhão: o Atlas Linguístico do Maranhão em foco" (2006), todos coletânea de artigos produzidos pelos professores e auxiliares de pesquisa do Projeto ALiMA.
Essas obras são importantíssimas para quem quer conhecer, mais seriamente, o português falado no Maranhão, visto que elas trazem informações científicas alinhadas com a Sociolinguística, a Dialetologia e a Geolingística e seus métodos. Recomendamos essa obra a estudantes e profissionais das áreas de Letras, Ciências Sociais, História, Antropologia, Sociologia entre outras áreas que tenham o homem e sua cultura como objeto de pesquisa.
Para adquirir essa obra, e as demais apresentadas aqui, é necessário entrar em contato com o Projeto Atlas Linguístico do Maranhão (ALiMA) pelos emails: projetoalima@gmail.com, alima@ufma.br.

Luís Henrique Serra
Aluno do curso de Letras da UFMA


quarta-feira, 20 de outubro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Osvaldo Montenegro - METADE (inspirado em Traduzir-se - Ferreira Gullar )

Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio…

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste…

Que a mulher que eu amo
seja para sempre amada
mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim
é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.

E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade…
também

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Papai Lula e seu filho Brasil

Sei que, certa vez, escrevi aqui que Lula foi (e sempre será) o melhor presidente que o Brasil já sonhou em ter. Digo isso não por suas decisões políticas ou por suas (nada convencionais) alianças internacionais, mas porque nele você podia ver uma vontade de mudar o Brasil. Era claro, no rosto do presidente do País, a vontade de mudar a vida dos brasileiros, independente de suas posições sociais, apesar da reclamação da classe média. Mas, talvez, o que Lula não esperava (ou talvez sim) é a face podre e obscura da política brasileira (ou mundial). Acredito que até de certo modo, o nosso humilde presidente lutou, mas sem sucessos, deixou-se abater quase no fim da caminhada. Entendo que só a vontade em Lula não fora suficiente, tinha que ter mais, mais visão, mais compreensão, mais que feijão com arroz, tinha que ter mais investimento em educação e saúde. Sem dúvidas Lula governou o país como um pai nordestino, que em sua maioria (dada as circunstâncias) pensa que “só encher o bucho dos meninos tá bom”. Mas não podemos negar a vontade do presidente de mudar o Brasil, ver ele mais “taludinho”, mais forte, mais importante. Não fora as forças “sobre naturais” (Lembrem Jânio) talvez ele conseguisse. Espero que enquanto eu estiver vivo surja outro homem com a vontade de Lula, só que com uma visão mais ampla de desenvolvimento de um país.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

LEIA, É RAPIDINHO....

Se o título que pus nesse texto te atraiu, cuidado, você é um cidadão vítima do maior vício que a humanidade tem sofrido nos últimos tempos: a presa.

Eu estava aqui, fazendo nada, e como toda e qualquer pessoa que tem um blog e que estão com a cabeça fervendo, decidi escrever uma prosa com o mais justo dos títulos de prosa. Meus dedos começaram a tremerem porque minha memória e consciência estavam borbulhando, então decidi escrever algumas coisas que eu estava pensando comigo mesmo.

Sei que aqui não é o Twitter, mas devo me manifestar, já que não o faço aqui há bastante tempo. Estava pensando acerca da tecnologia, as coisas modernas, quantos avanços a ciência tem alcançado em todos os ramos do conhecimento humano, quanto à falta de tempo que nós temos sofrido nos últimos século. Apesar de ser algo que já foi previsto por Jesus Cristo há século, tem sido algo que as tecnologias mais modernas não têm conseguido evitar . Por mais que corramos, ultimamente não temos tempo para quase nada. Corremos, comemos, andamos, nos vestimos, andamos em veículos silenciosos e rápidos, porém, quanto mais rápido estamos, menos tempo temos, o que nos faz refletir ainda mais sobre essa tal tecnologia que nos "facilita a vida".

Carros rápidos, email, dowload, PCs, JGVYWX 395, e muitas outras siglas que o léxico de nossa bem desenvolvida língua possa suportar, nos prometem encurtamento de tempo, o máximo possível. A palavra da vez é "rapidez". O produto no mercado que tenha a maior capacidade de nos oferecer tal qualidade, esse é o lucrativo. Prova disso, é o mui planejado e querido "trem bala", que está as vésperas de ser instalado em nosso país, é na verdade um ícone dessa sociedade pós-moderna (gosto de falar isso, parece inteligente).

Algo interessante, é pensar como essa mesma sociedade que corre, em máquinas poderossissímas está sempre atrasada, ou mesmo, cheia de coisas pra fazer. Na verdade, a presa da humanidade tem feito ela se esquecer das coisas boas da vida, de como é bom olhar para o mundo e ver as coisas boas. de como o mundo é cheio de beleza, criadas justamente para nosso deleite.... A presa tem feito o homem esquecer-se de seu semelhante, de ver que além dele, há outras pessoas no mundo. Sem dúvidas, o bom da vida é viver bem e ver os outros bem também. Pense nisso....

Agora pode ir atrás do que você estava, com presa, procurando....

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Ferreira Gullar e o prêmio Camões


Na última segunda-feira, dia 31 de Maio, a diretora do Instituto Camões de Literatura, Gabriela Canavilhas, anunciou como vencedor do Prêmio Camões de Literatura o poeta e critico de arte maranhense Ferreira Gullar. O prêmio é uma espécie de prêmio nóbel da literatura de língua portuguesa atribuído aqueles que enriqueceram a literatura lusófona com suas obras literárias.


O prêmio foi atribuído a Gullar pelo conjunto da obra, que é constituída por inúmeros ensaios de critica de arte, poemas, crônicas, literatura infanto-juvenil, além de peças de teatro, telenovelas. O maior valor, para a academia lisófona, da literatura de Gullar é o seu carater político e revelador, sem deixar de mão uma forte dose de estética e força.


Na literatura, especificamente na poesia, Ferreira Gullar tem uma vasta e já consagrada obra, constituída por Um pouco Acima do Chão, Muitas vozes, Barulhos, Poema sujo, Na Vertigem do dia, Dentro da Noitre Veloz entre outros. Tais livros são um complexo expressivo de um eu-lírico que tem tanta expressão, que uma só forma de código não lhe é suficiente. A obra de Gullar é marcada por intensas mudanças, as vezes espantosas que podem ser traduzidas como um eu-lírico desesperado para falar, mas que nunca é ouvido, um eu-lírico cheio de vida e planos bons para seu povo, mas que nunca é ouvido, e que portanto, tem que mudar seu código para sempre tentar ser compreendido.


Como todos sabem, Ferreira Gullar é maranhense, uma dessas muitas pérolas que saem daqui e fazem a literatura de nosso país ser única e cheia de vida. Sem dúvidas Ferreira Gullar merece muitos outros prêmios, dado seu valor artístico e literário que é agudo e cheio de uma vivaz e intensa força expressiva, o poeta sente a aflição de seu povo e de suas dificuldades e cresce junto com ele. Em suas próprias palavras: " Meu povoi e meu poema crescem juntos, como cresce o fruto na árvore nova"

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Projeto Meu primeiro emprego – Apoio social ou mordaça nos jovens?

Um fenômeno azul tomou conta da cidade de São Luís, ou ainda de outras cidades do Maranhão. Em todas as paradas de ônibus da cidade, jovens trajados de um uniforme azul com uma estampa branca onde está escrito “Viva programa meu primeiro emprego”, esperam, as vezes ansiosos, com medo do atraso, pelo ônibus que os levarão em direção ao centro ou ao São Francisco, bairros onde estão conglomerados de lojas e butiques da Ilha. São todos jovens recém formados do segundo grau (ou até mesmo de algum curso de graduação) ávidos por uma vaga de emprego no então competitivo mercado de trabalho.

O programa do governo do estado em parceria com muitas empresas comerciais de São Luís, está fazendo muito sucesso no Estado. Os mentores desse programa defendem que o jovem, ao ser inserido pela primeira vez no mercado de trabalho, tem maior chance de ingressar nele. O programa consiste em dar vagas de emprego dentro do mercado (lojas, papelarias entre outros estabelecimento comerciais) para aqueles jovens que não conseguem vaga nele.

O programa, desde o último governo, foi extinto, mas agora volta com força total. Alguns, como eu, relacionam essa repentina ascensão do programa às aproximações do pleito eleitoral. Obviamente que no discurso de nossos políticos, ou grupo, isso é mera coincidência. Além desses fatos, algumas perguntas seriam importantes na análise desse fenômeno azul:

a)esse programa existe desde o último governo de Roseana Sarney, por quê foi extinto? b) Por quê só agora, depois do golpe das últimas eleições o governo tem condições de mantê-lo? c) No último governo do deposto Jackson Lago, a então senadora da república, e atualmente governadora do Estado, Roseana Sarney, não proporcionou apoio financeiro ou político a Jackson para implantar programas sociais, Porquê só agora Roseana decidiu implantar esse programa, uma vez que ela ama o Maranhão com toda a força de seu coração, d) e por fim, será que esses jovens, contemplados pelo programa, no momento da eleição, não levarão em conta esse “beneficio” “promovido” pela então governadora, futura candidata ao cargo (mais uma vez) Roseana Sarney?

Um certo professor meu diz uma frase muito sabia: “ Jovem tem que protestar, sem o protesto, o jovem não é jovem, Jovem nunca fica satisfeito”. A tal frase de meu professor, traduziria perfeitamente os jovens de sua época que, sem dúvidas, eram bem mais consciente do que os de hoje (ele tem mais ou menos cinqüenta anos). Esses, por sua vez, dado o presente contexto em que nos encontramos, perderam essa característica naturalmente importante para a evolução social e econômica de uma sociedade. Programas como o primeiro emprego são utilizados como um amortecedores da ira natural dos jovens. Os maiores e importantes protestos que aconteceram na história do Brasil e do mundo, foram proporcionados pelos jovens. Com esse programa, o jovem perde o foco em sua formação superior ou técnica, o que seria um ganho para um grupo que não precisa, muito menos quer, pessoas pensantes, uma vez que o conhecimento liberta os homens das algemas da ideologia. É triste ver jovens, muitas vezes inteligentes (todos são), que por falta de uma orientação voltada para a reflexão da vida e da sociedade tem que se submeter a programas amortecedores como esses.

Cabe as pessoas que tem um mínimo de consciência, usarem seus poderes comunicativos para desmascarar esse plano que tem por fim a permanência eterna de um poder que tem trazido miséria e desigualdade por um longo tempo da história de nossa sociedade.

Apesar de não pertencer ao partido socialista maranhense, digo:

“Só a luta muda a vida”

segunda-feira, 22 de março de 2010

PRESO [LIVRE]

Eu, aqui em meu quarto,
Preso no mais livre cosmos universal,
E enquanto a cidade grita, pânica, por meu nome:
Meus pensamentos não saeem de você.
Se eu quisesse ser livre, não o seria,
Porque você, meu ódio, meu amor,
É como grude solto nas garras da liberdade;
É como um suor de letras que vertem de meu coração
E que caeem, secas em meu papel.
Molhadas pelos sentimentos mais absurdamente vazios.

Enquanto a cidade grita meu nome, eu sussurro o seu.
Enquanto você movimenta-se em meu imaginário,
Eu paro, movimentando-me a seu encontro.
Na porta de meu quarto, a consciência me chama
Para a dura realidade mole e (des)sentida
Fresca e calorenta dos opostos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

São Luís no prisma Gullariano


"O homem está na cidade como uma coisa está em outra e a cidade está no homem que está em outra cidade.
mas variados são os modos como uma coisa está em outra coisa:o homem, por exemplo, não está na cidade nem como uma árvore está em qualquer uma de suas folhas"
(Ferreira Gullar - Poema Sujo)



Recentemente o autor maranhense Ferreira Gullar foi um dos principais homenageados da II Feira do Livro de São Luís. Dados esse fato, meses antes do inicio do evento, na internet havia inúmeras enquetes que questionavam sobre a escolha do maranhense para a homenagem. Porém, um outro que chamou a atenção foi a percepção do desconhecimento geral da obra de Gullar por parte dos maranhenses, pois, mensagens do tipo :" Para que escolher Gullar, ele não é maranhense" ou " Na obra de Ferreira Gullar não há uma menção à cidade de São Luís" proliferavam nessas enquetes. Frases como essas deixam qualquer um, amante da obra de Gullar, de cabelos em pé. Um outro espanto foi perceber que alguns se intitulavam estudantes dos cursos de Letras, mas que na prática, pouco sabiam, ou quase nada, sobre Ferreira Gullar e sua relação com São Luís.
Dados esses fatos, esse texto vem trazer alguns aspectos importantes sobre Ferreira Gullar, bem como de sua obra. Na verdade, José de Ribamar Ferreira , Verdadeiro nome do poeta, é Ludovicense, toda a sua formação inicial artistica é influenciada do Maranhão, visto que esta é um terra de grandes talentos poéticos.
Ferreira Gullar estudou no colégio Liceu Maranhense e no antigo CEFET, agora IFMA; viveu no Maranhão até alançar a idade adulta. Foi para o Rio de Janeiro devido a seu grande talento como autor teatral e de suas concepções políticas.

Desde moço Ferreira Gullar já anunciava que seria um gradiosissimo poeta. Participou de muitos concursos de poesia, onde quase sempre ganhava. Uma curiosidade é que seu primeiro Livro " Um poco acima do chão" em que já demonstrava muito talento, apesar de o próprio poeta achar que não, é fruto de um concuro em que ele ganhou em primeiro lugar, o prêmio seria a publicação de um livro, dai surgiu seu primeiro trabalho, dois anos antes de ele ir para o Rio de Janeiro.

Gullar sempre apresentou a cidade de São Luís com muito esmero. Há inúmeros estudiosos, muitos deles consagrados como o Humberto Eco, que atestam que a cidade de São Luís jamais saiu dos temas abordados na poesia Gullariana. Para esses autores, a cidade de São Luís, é um espaço buscado angustiadamente no eu lírico gullariano, a angústia da separação, das distâncias sempre aparecem nos temas abordados pelo poeta, São Luís aparece no cosmos gullariano como a musa intocável da segunda fase do romantismo, a Deusa Afrodite, bela e implausível com seu contornos de esmeralda, a Istalingrado Brasileira, como ele mesmo escreve São Luís em seu mais conhecido poema. Tendo em vista as concepções esquerdistas do poeta, São Luís ser comparada a Istalingrado é um grande elogio, visto que Istalingrado é a Meca dos esquerdistas.

Em um trecho de Poema Sujo , Gullar confunde-se com a própria cidade, diz que nele habita a plenitude do espaço "saoluisense":

"Mas sobretudo meu corpo nordestino mais que isso maranhense mais que isso sanluisense mais que isso ferreirense newtoniense alzirense" (grifo meu)


Nesse trecho fica bem claro esse eterno amor por São Luís. Ao logo de todo o poema, a lembrança da cidade amada é amarrada a seu tempo de criança, boas e saborosas cenas sempre acontecem em São Luís do Maranhão, independênte se ele estivesse na Argentina, França ou Chile, países onde ele ficou exilado durante a ditadura. Outra imagem atrelada a São Luís é a da figura do pai , de quem o poeta sempre faz menção.


Mesmo com as poucas provas aqui demonstradas,( para mais, consultar a obra do poeta) é de se crer que são suficientes para mostrar o quanto a cidade de São Luís mora no coração e na poesia de Ferreira Gullar. O mito de que São Luís não existe para Ferreira Gullar com certeza cai como uma bomba para o poeta, pior até que a bomba suja que como visto aqui, ama a cidade mesmo longe.

GULLAR, Ferreira. Poema sujo. Rio de Janeiro: circulo do livro, 2000.

MACEDO, Diogo Andrade de. Traços estilísticos de Ferreira Gullar em Poema Sujo, 1976. Disponível em << http://www.mafua.ufsc.br/diogo.html>> acesso dia 19/03/2010.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ferreira Gullar e a questão da arte vanguardista




Nos últimos tempos, são muitas as polêmicas acerca da posição do crítico de arte e poeta Ferreira Gullar acerca da arte contemporânea: para Gullar, a arte dita de vanguarda é uma arte sem fundamentos, ou nem pode ser chamada de arte. Para tanto, ele toma como exemplo a primeira "obra" considerada de arte vanguardista, ou conceitual, (como se auto declaram os seguidores desse movimento) "A fonte" de Marcel Ducampt que é um urinol esmaltado comprado em uma loja de materiais de construção, que em 1917 foi enviado pelo artista a um concurso de arte nos Estados Unidos, onde foi rejeitado pelo júri, contudo, essa peça fez surgir algumas teorias de cunho psicanalísta, que afirmavam que o urinol seria a representação, mediante a forma, do útero humano, e que ao urinar, o homem tem em mente essa forma, pensamentos claro que só os psicanalístas tem.

Sobre a obra, Ferreira gullar questiona a validade universal dela, pois nesse tipo de arte (Ready-made), há a negação da própria arte, do método artistico, da criação artística feita de método. Para os fundadores desse movimento, a arte deveria ser fruto de um trabalho psíquico e não de algum esforço conceitual, ou de estudos centristas. O dadaísmo ( tronco central do Ready-made) pregava a anarquia da arte, os objetos deveriam ser pêgos de seus lugares de costume, ou onde tem menos valor, para serem levados aos museus e assim, receberem o valor de arte. Esse tipo de comportamento seria uma critica à arte, que para eles, não tem valor em si, mas sim nas instituições que a financeia. Ferreira Gullar questiona esse ponto de vista pois para o poeta, a arte tem sim seu valor restrito ao próprio objeto, e não nas instituições, para ele, a a partir do momento que um objeto é tirado de seu lugar de costume e ser posto em um museu como obra de arte, ele só será arte naquele museu, e não será arte em um outro lugar, o que vem de encontro com a questão universal da arte, levando em conta essa traço característico dela. mas tarde, Ducampt vem admitir que tudo que ele disesse que é arte, seria arte, mostrando o real sentido desse movimento, que era dizer que quem faz a arte somos nós, nós é que ditamos o que será arte e o que não vai ser, sendo assim, um urinol, uma par ou qualquer objeto poderia ser tão arte quanto qualquer quadro pintado por Michellangelo ou Picasso.

Muitos dos seguidores desse movimento acusam Ferreira Gullar de cuspir no prato que ele havia comido, pois o poeta maranhense já escreveu muitas poesias de cunho concretista, a manifestação dadaística da literatura, pois a poesia concretista tinha como fundamento principal a subversão da forma de escrever literatura. Em contra partida Gullar se defende dizendo que essa foi mais uma de suas experiências que ele teve e que não conseguiu suportar o peso de suas mensagens, pois os limites da poesia concretista são pequenos e que não conseguem suster uma mensagem mais profunda. No que eu concordo em número e grau.

Se levarmos em conta a cultura dadaística e sua principal mensagem ( anarquia na arte, confusão, no sense a toda a prova) não poderemos esperar de seu comportamento artístico algo que possa comentar. Para Gullar, a arte vanguardista acabou caindo naquilo que ela mais fugia, que é a institucionalização da arte, um vez que quem diz o que é arte ou não é um museu, quem diz quem é o artista, mais uma vez é um museu, e não a arte do museu.
O que devo antes dizer que Ferreira Gullar é sempre muito sério em suas colocações, dizer que a vanguarda e sua arte não é o que se pretende, é para poucos. E por essas e outras que Ferreira Gullar será sempre respeitado em um campo que ele domina como poucos no Brasil. Seus conceitos estão sempre embasado em muitos fatos concretos e fortes, até mesmo um de seus fiascos mais famosos, aqui nos referindo ao poema enterrado, Ferreira Gullar arrebentou.
Até a próxima e saudações gullarianas

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Poesia cortante

Introduzo na poesia a palavra peste
Muita mais que sede, muito mais que água
A poesia, meu rapaz, é como espada
Que fere e mata
Que vive e farta
Que junta e aparta
Que move e alastra
Vida,
Força,
Fulgor,
E um pouco de amor.
Se engana quem pensa que essa espada
São só palavras bonitas,
Doces para encantar a namorada,
A poesia é como faca
Que fere e mata
Que vive e farta
Que junta e aparta
Que move e alastra
Ódio,
Fome,
Medo
E ideologia
A poesia, meu rapaz, são para os fortes,
Os trabalhadores, os escultores,
Os senhores, os servos, porque a poesia
É como unha afiada
Fere e mata
Vive e farta
Junta e aparta
Move e alastra
Amor
Entra pernas e sabores,
Entre Mendigos e doutores,
Entre meninos e meninas
Ou tudo igual,
A poesia, meu jovem,
É má, não é boa
Salva, não desperdiça....