quarta-feira, 24 de junho de 2009

Confisão

Certa vez, eu,
amalgamado com as mais
loucas memórias e embriagado
com as doses mais fortes de solidão
encontrei um jovem Cibarita
ela, risonha e gatuna,
gesticulava, lânguida e hipnotizante,
suas mãos, belas e secas,
com seus dedos, lúgubres,
me chamavam, e eu por mais
que tentasse resistir,
fôra alcançado por ela.

Do meu lado, sem que eu percebesse
encontrava-se um velho magro e gasto
pelo tempo, sua voz fraca e inoperante,
sussurrava em meus ouvidos, dizendo
palavras sábias e racionais

Foi quando o véu, daquela alegre
e festiva Cibarita, me envolveu
guiando-me como um imprestável
e inanimado ser, até que chegássemos
até a penumbra
ela, excitante e muda
gritava com seus olhos: "- Vem!!"

Quando meus pés, já sem força,
encontraram uma forte e corpulenta pedra
por quem se apaixonaram, e seu trabalho,
de me sustentar, abandonaram.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O ESPELHO INREFLETIVEL

Eu sou um espelho
negro e espesso
grosso e animal
Em meus olhos
brilhamo sol e o negrume desse dia
Minhas letras
vomitam a angústia
inexpremíveis do ser
O insimesmado mundo
mudo
é indesejável
eletrônico e prosopopético
zoadento e zombador

Eu sou um espelho
azul e encantador
de águas e secas
de eu e de meus eus
quem sou eu?

Eu sou um espelho
em mim não se refletem
reflexa a solidão
solitária, deste mundo
escravo e indecifrável
senhor e conhecido

quarta-feira, 17 de junho de 2009

A ENCANTAÇÃO PELO RISO - VELIMIR KHLIEBNIKOV

Ride, ridentes!
Derride, derridentes!
Risonhai aos risos,
rimente risandai!
Derride sorrimente!
Risos sobrerrisos - risadas
de sorrideiros risores!
Hílare esrir, risos de
sobrerridores riseiros!
Sorrisonhos, risonhos,
Sorride, ridiculai, risando, risantes,
Hilariando, riando,
Ride, ridentes!
Derride, derridentes!

1910


Tradução de Haroldo de Cam

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O VENTO - LOS HERMANOS

Posso ouvir o vento passar
Assistir a onda bater
Mas o estrago que faz
A vida é curta pra ver
Eu pensei que quando
eu morrer Vou acordar
para o tempo E para o
tempo parar Um século,
um mês Três vidas e mais
Um passo pra trás? Por que será? ...
Vou pensar Como pode alguém sonhar
O que é impossível saber Não te dizer
o que eu penso Já é pensar em dizer Isso eu vi,
o vento leva! Não sei mas sinto que é como sonhar
Que o esforço pra lembrar É vontade de esquecer
E isso por que?
(diz mais)
Ú
Se a gente já não sabe mais
Rir um do outro meu bem Então
o que resta é chorar E talvezse
tem que durar Vem renascido o
amor bento de lágrimas.
Um século, três Se as vidas atrás
São parte de nós E como será?
O vento vai dizer lento que virá
E se chover demais
A gente vai saber, Claro de um trovão,
Se alguém depois sorrir em paz
(Só de encontrar...)